Foto: cedida por J. A. |
*J. A. pediu para que a sua identidade fosse preservada, pois alguns familiares ainda não sabem o que lhe aconteceu durante a infância. Ela se preocupa com a reação dessas pessoas.
I.
Hoje J. tem 29 anos, é fonoaudióloga e trabalha com aparelhos auditivos. O sonho dela é poder ajudar outras pessoas, já que ela própria não teve ajuda quando precisou.
J. tinha 4 anos quando ganhou um irmãozinho. Com a chegada do bebê, a família voltou toda a sua atenção somente para o caçula.
Os pais de J. tinham o hábito de sempre visitar a casa dos avós paternos, que era grande o suficiente para a menininha brincar livremente, sem supervisão alguma.
Nessa casa também morava o irmão mais novo do pai de J., que tinha cerca de 20 anos em 1991. Uma vez ele resolveu chamar a sobrinha de 4 anos para visitar o seu quarto. Ele tinha uma "brincadeira que ela ia gostar".
Esse quarto ficava no fundo de um corredor da grande casa e não tinha porta. No lugar, havia uma cortina de miçangas. Para tornar o local inacessível enquanto estava com a sobrinha, o homem arrastou uma cômoda grande no lugar da porta.
Nesse quarto haviam duas camas de solteiro. A cama dele era a da esquerda, encostada na parede, a qual ele usou para colocar a sobrinha no colo, virada com o rosto para ele, e começou a esfregar a pequena em suas partes.
Ele a esfregava com tanta força que aquilo machucava o corpo de J. Mas, ela nem tinha noção de que o tio estava fazendo isso para se masturbar. Ela nem sabia o que era isso.
Depois disso, a pequena chorava e falava para os pais que não queria ir mais na casa dos avós paternos. Mas, eles não davam ouvidos à J. e continuavam levando a criança até o local. Era só a casa dos avós, que mal poderia ter?
O tio de J. continuou abusando sexualmente da sobrinha de 4 anos por mais um ano, mesmo com ela pedindo para parar. Mesmo com a menina implorando. Mesmo com a criança chorando muito.
"Ele gostava daquilo mesmo quando eu pedia para parar", conta J., com um misto de nojo e medo.
25 anos depois, ela consegue se lembrar com nitidez de como o tio sentia prazer com o seu desespero. O que você se lembra de quando tinha 4 anos?
II.
Era uma brincadeira, ela ia gostar. Era isso que ele dizia.
Certa vez, o tio de J. chegou a convidar um amigo para ir até o quarto ver o que ele fazia com a sobrinha.
Até hoje J. se lembra do rosto desse amigo porque ele olhou para a criança, que estava chorando, e perguntou ao tio dela se aquilo não ia dar problema, se não tinha perigo de a pequena contar tudo.
O tio de J. disse que não, que tava tudo bem. Afinal, ela era "muito pequena". Ele sabia muito bem disso.
III.
Por causa dos abusos, a criança passou a ter medo de qualquer homem, inclusive do próprio pai, que se parecia muito, fisicamente, com o irmão mais novo.
Houve um tempo em que J. praticava karatê e o pai a levava, sozinho, até a cidade onde eram as aulas. Durante o caminho, ela lembra que sentia pavor. Era uma tortura para ela. J. não deixava o pai se aproximar, encostar ou abraçar ela. Até hoje não são muito próximos.
IV.
Outra coisa que aconteceu foi que J. aflorou sexualmente muito cedo. Com 5 ou 6 anos, se masturbava em qualquer lugar. Uma vez apanhou da mãe porque estava se masturbando no ônibus. Outra vez, porque estava enfiando colheres na calcinha. Ela se masturbava até quando a família estava toda na sala. J. passou a ter essa necessidade depois dos abusos.
Com apenas 9 anos, menstruou.
Ela demorou um tempão para entender que tinha sido vítima de abuso sexual.
E quem dera a história de abuso de J. acabasse por aqui.
V.
Quando ela tinha 12 anos, começou a fazer aulas de dança na escola. Aos 14, um dia estava saindo de uma dessas aulas quando encontrou um amigo da família, que a chamou para ir até a casa dele ver a mãe dele. Ela não viu problema algum nisso, afinal, eram pessoas que estavam sempre visitando a sua casa.
Mas, quando J. chegou até o local e chamou pela mulher, ela não obteve respostas. O "amigo" pediu, então, para que ela esperasse na sala.
Quando voltou ao local, esse homem a atacou. Ele a agrediu e tapou a boca de J. à força para conter os gritos.
Esse homem rasgou a meia calça e o collant da bailarina de 14 anos.
Depois de estuprá-la, jogou uma camiseta em cima do seu corpo, ordenou que ela se vestisse e a obrigou a lavar uma almofada do sofá que ficou suja de sangue.
Humilhada e dolorida, J. não tinha opções. Ela fez o que o agressor mandou.
E foi embora.
Em casa, ninguém soube. Ninguém nem desconfiou.
VI.
A menina até tentou desabafar com a mãe e falar sobre o assunto depois de ir em uma consulta no ginecologista dois anos mais tarde. Naquela consulta, a mãe de J. descobrira que ela não era mais virgem. Então, a adolescente tentou contar a mãe o que tinha acontecido. Mas, não houve diálogo. A mãe mudou de semblante quando a filha começou a contar, recomendou que ela esquecesse e nunca mais falou sobre o assunto.
J. fala com mágoa dos pais. Ela passou a vida tentando agradá-los, "mas parece que nada adianta". Os pais dela queriam que ela se casasse e tivesse filhos, mas os relacionamentos de J. nunca duraram o suficiente. Ela desenvolveu uma enorme dificuldade com relacionamentos e, além disso, não pode engravidar porque tem endometriose, uma doença que atingiu as trompas de seu útero.
VII.
Mas, o que mais atingiu a vida de J. foi o silêncio. Por isso hoje ela faz um escândalo.
Meus Deus que horror.... em pensar que muitas crianças passam por isso... socorram nossas crianças. Ajudem , não deixem elas serem abusadas, isso mata , isso fere, isso não sara nunca. Desgraçados , quero que morram, quero que morram estuprados em uma cadeia.
ResponderExcluirTenho uma filha de 2 anos e não sei o que faria se sonhasse que alguém fez esse tipo de coisa com ela. Me embrulho o estômago de imaginar o sofrimento dela. Meu Deus. Que monstro.
ResponderExcluirUma historia parecida com a minha , tantas e tantas vitimas estao com um no na garganta . Meu Deus quando termina isto?
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