segunda-feira, 30 de maio de 2016

Comunicado

Informo que o post "Quando uma mãe precisa levar a filha de 3 anos ao ginecologista" foi removido a pedido da fonte.


Confira:

"Boa noite, agradeço a todos que leram minha história, escrita honrosamente pela Ágatha Santos, a qual tenho uma enorme gratidão por ter exposto exatamente o que houve com minha pequena. Agradeço a todos que se comoveram, pelas mensagens lindas de apoio que recebi, e isso me fez ter força, mais força ainda para lutar pela proteção de minha filha. Não imaginava que fosse ter tamanha repercussão, mas algo me deixou com medo, e por este único e amedrontador motivo, pedi que fosse removido a reportagem. Tenho medo pela minha filha, por mim e minha família, espero que entendam. Mais uma vez agradeço, e espero que Deus com toda sua bondade retribua tudo em dobro a todos vocês. Orem pela minha pequena, somente isto que eu peço. Obrigada, obrigada, obrigada. Só tenho amor e gratidão neste momento"

Stéfani

quinta-feira, 26 de maio de 2016

São mais que 33 homens, são 527 mil estupradores no país

Site: Secretaria de Políticas Públicas para as mulheres da Presidência da República (SPM-PR).


É importante que você leia esse texto tendo em mente que, muito provavelmente, uma mulher está sendo estuprada agora.


Me sinto de ressaca com essa enxurrada de posts sobre uma menina de 16 anos que acordou com 33 caras em cima dela no Rio de Janeiro. Os 33 que a estupraram e ainda divulgaram imagens e comentários irônicos e de deboche no Twitter. TRINTA E TRÊS, entre os quais não havia UM que achasse aquilo tudo um absurdo.

A menina simplesmente foi à casa do namorado na sexta-feira (20) e acordou no domingo (22), com trinta e três homens em cima dela. Ela não consegue falar, está traumatizada. Enquanto a vítima esteve dopada, os agressores tiraram fotos depois de estuprá-la, mostraram a sua vagina para milhares de pessoas e não tiveram vergonha de publicar o crime na internet. Para eles, era divertido. Eles tinham certeza que não haveria punição.

Que essa menina tenha a devida assistência, porque ela vai precisar muito. E nem todo esse "muito" será o suficiente para fazê-la esquecer de que no dia 20 de maio TRINTA E TRÊS covardes se acharam no direito de violentar o seu corpo, a sua vida e a sua alma de todas as piores formas possíveis. Por enquanto, ela não pode falar e nem deve. Ela tentou fugir do hospital várias vezes. Ela só quer ir para a casa.

O caso dessa adolescente está longe de ser raro. De acordo com os dados oficiais do Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública (Sinesp), mais de 40 mil casos de estupros foram denunciados em 2014. Você se assustou com 40 mil? Então, saiba que essa é apenas a ponta do iceberg.

No estudo de Cerqueira e César para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicado em 2014, foi identificado que apenas 10% (ou menos) das vítimas denunciam o crime. Na pesquisa Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde, a estimativa é que "haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país". QUINHENTOS E VINTE E SETE MIL.

Aí eu lembrei da Patrícia*, que me contou um pouco do que tinha acontecido com ela em uma entrevista breve. Ela, assim como a menina do Rio de Janeiro, é uma vítima de estupro coletivo. Sim, ela é e não ela "foi", porque ela continua sentindo as dores até hoje.

Quando Patrícia tinha 15 anos, estava voltando a pé da escola, quase chegando em casa, quando 3 meninos e 2 meninas que estudavam na mesma sala que ela a encurralaram e a levaram à força para uma área isolada de preservação ambiental. Os garotos enfiavam os dedos no ânus e na vagina dela, enquanto as garotas a seguravam e riam fazendo piada da situação. Os meninos, que eram "religiosos", disseram à Patrícia, enquanto ela estava sendo espancada e estuprada, que o seu corpo era imundo demais para que os "pênis sagrados" deles penetrassem a vagina dela. Por isso, não o fizeram.

A menina de 16 anos violentada por 33 homens no Rio de Janeiro não tem condições e nem deve falar agora. Ela só quer ir para a casa. Mas, a menina de 15 anos violentada por 5 covardes em São Paulo hoje tem 20 e quer falar agora. Ela se cansou de ficar calada. Patrícia não virou notícia, mas está entre as vítimas de estupro que nunca denunciaram o crime às autoridades - o que acontece em 90% dos casos, relembrando a estatística do IPEA. Ela tinha medo e vergonha de denunciar.

Ela ainda teve que dividir a sala de aula com os cinco agressores por mais dois anos, depois do estupro coletivo que aconteceu no final do ano letivo de 2010.  Desde 2008 Patrícia já era vítima de agressões verbais por parte dos meninos e meninas que a agrediram naquele matagal. Os professores percebiam essas agressões na escola, mas eles preferiram não "interferir". Só em 2012 ela conseguiu uma transferência e trocou de colégio.

Durante todo esse tempo, Patrícia se autoflagelava. Ela cortava os braços na tentativa de fazer com que essa dor fosse maior do que a dor que ela sentia na alma. Ninguém nunca percebeu as cicatrizes. Em um certo momento de desespero, tentou desabafar com o pai, mas ele achou que a filha estava mentindo, afinal ela era uma adolescente instável. Então, ela desistiu de desabafar.

Depois disso, Patrícia tentou o suicídio algumas vezes. No ano passado, ficou internada na UTI por três dias depois de tomar todos os remédios para pressão e diabetes que encontrou em sua casa. Até hoje o pai dela não acredita que ela esteja falando a verdade.

Como os agressores de Patrícia nunca foram presos, esse ano ela reencontrou um deles na universidade em que cursa Design atualmente. Ela entrou em pânico. Na tentativa de superar a dor de tudo o que aconteceu, continua desferindo cortes em si mesma, que ela faz com bisturi. Pelo que eu contei, eram mais de trinta cortes ensanguentados no mesmo braço. Ela usa mangas compridas o tempo inteiro para que ninguém perceba, mas essas são apenas as feridas superficiais. O que há por dentro é muito mais dolorido.

Quantas meninas estão nessa situação hoje? 70% das vítimas de estupro no Brasil são crianças ou adolescentes, de acordo com a pesquisa do IPEA.

33 homens estupraram a menina de 16 anos no Rio de Janeiro, 2 meninas e 3 meninos estupraram a menina de 15 anos em São Paulo e mais de 500 mil vão estuprar outras vítimas, como a Patrícia, no próximo ano em nosso país.

88,5% das vítimas são do gênero feminino, segundo o IPEA. Será que é exagero, mesmo, quando, nós, mulheres, fazemos um "escândalo" pelos nossos direitos?


*Patrícia é um nome fictício para C. S., 20 anos.